segunda-feira, 30 de março de 2009

"De filha para filhos e filhas"


Sou filha. E não importa a idade que eu tenha, sempre serei.
Há coisas da minha infância que nunca esquecerei. Lembranças que ficaram na minha memória como letras impressas no papel, nunca mais saem. Lembranças de momentos vivenciados com minha mãe, vividos com meu pai... Coisas únicas e diferentes que passei com cada um deles. Lembranças que vivem além do tempo.
Lembro das coisas boas e das coisas não tão boas assim. Como o dia em que minha mãe ficou só no hospital para “fazer” uma cirurgia: “Pobre mãezinha!” – pensava eu, e logo sentia vontade de chorar. E também, como o dia que, sem perceber, meu pai trancou meu dedo na porta do carro. Eu chorei. Mas lembro que meu pai veio em meu auxilio muito mais assustado do que eu.
Há uma lembrança em especial que trago em meu coração. Meu pai me colocava sentada em seu colo, me dava um beijo no rosto e perguntava com carinho:
_ De quem é o xuxuzinho?
E eu toda envergonhada respondia:
_ Do Senhor Jesus, do papai e da mamãe.
Ainda me emociono quando lembro disso. Porque naqueles momentos – que duravam alguns poucos minutos – meu pai era só meu. Sua atenção era só minha. Eu não precisava dividi-lo com minhas irmãs e com meu irmão. Era o meu momento especial com o meu pai. Era a pergunta que ele fazia só para mim. Era a resposta que somente eu dava.
Ah! Como lembro disso!
Mas tem algo que eu não lembro. Que não sei quando aconteceu. Quando foi a última vez que meu pai me pegou no colo? Eu não sei. Quando foi a ultima vez que ele perguntou de quem era o xuxuzinho? Não sei. E eu? Quando foi a ultima vez que eu respondi essa pergunta? Tinha sete, oito, nove anos? Não sei. Não lembro mais...
Dizem que as coisas mudam com o tempo. Não creio assim. Creio que as pessoas é quem mudam. Estamos em constante transformação. Portanto, nossa maneira de ver e viver a vida também muda com o tempo.
Hoje me sinto mais cobrada por minhas responsabilidades do que acariciada por ser a queridinha do papai. Imagino que aí está um dos erros das mães e dos pais. Eles procuram aproveitar bem, e muito bem, a infância dos filhos. Porque, como eles mesmos dizem, “é uma fase linda, é uma fase que não volta mais”. E por que eles não aproveitam as outras frases dos filhos?
Quando a filha fica mocinha. Quando o filho começa a ter barba. Quando surgem as primeiras espinhas. As primeiras crises. Quando os filhos e filhas não sabem que profissão escolher. Quando os filhos e filhas se casam e saem de casa. Quando os filhos e filhas adquirem sua própria casa, seu próprio carro, sua própria geladeira. Quando os filhos e filhas têm seus próprios filhos e filhas. Quando surgem os primeiros cabelos brancos na cabeça dos filhos e quando as filhas entram na menopausa.
Enfim, todas essas fases dos filhos os pais deveriam “curtir”. A infância dos filhos. A adolescência dos filhos. A idade adulta dos filhos. E o inicio da velhice dos filhos – para os pais que tiverem a benção de ver isso. Porque em todas as fases da vida os filhos serão sempre filhos.
Tenho saudade de ver meu pai chegando em casa e me dando um beijo. E de dizer que eu sempre estava cheirosa. Quando foi a ultima vez que isso aconteceu? Por que meu pai deixou de me tratar como sua filha queridinha e passou a me tratar como sua filha somente?
Claro!
É tão obvio! Sei bem porquê.
Deve ser porque as pessoas mudam. Deve ser porque eu mudei. Mudei e deixei de tratar meu pai como meu superpai, e passei a tratá-lo como meu pai somente. Deve ser porque ele se sente mais cobrado por suas responsabilidades do que acariciado por ser um superpai. Deve ser porque eu não quis mais ficar em seu colo quando comecei a crescer. Deve ser porque eu quis – talvez até tenha exigido – que ele me tratasse como igual: uma mulher adulta, quando na verdade eu mal tinha saído das fraldas. Deve ser porque eu não saio mais correndo ao seu encontro quando ele chega em casa para beijar-lhe o rosto. Mas somente dou uma espiada pra ver quem chegou e digo, (quando digo): “oi pai”.
Quem sabe se hoje, quando meu pai chegasse em casa, eu carinhosamente envolvesse meus braços no pescoço dele e voltasse a olha-lo como meu superpai, ele, quem sabe, também voltaria a me olhar como sua filha queridinha e, talvez, me sentaria em seu colo e me daria um beijo no rosto.
E quem sabe, se ele perguntasse: “De quem é o xuxuzinho?”, eu ainda ficaria envergonhada ao responder: “Do Senhor Jesus, do papai e da mamãe”.
Mudamos a maneira de tratar nossos pais porque nós, filhas e filhos, estamos mudando. Estamos em constante transformação. Mas se é preciso que mudanças aconteçam, que sejam para melhor!
Ainda dá tempo de dar um abraço no papai e na mamãe?


adelita c.

blow + mind

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